Pular para o conteúdo principal

MAL TRAÇADAS LINHAS



MAL TRAÇADAS LINHAS 

      O batom vermelho sangue marca a taça de vinho tinto e eu me entrego a doce leveza da embriagues. Respiro profundamente, minha cabeça se derrama pelas calçadas esburacadas dos versos antigos e das canções esquecidas. Da gaveta da memória retiro uma pequena caixa envolta a um laço dourado. Uma lembrança intocada pelo tempo que teci e tratei de perder em meio a todos os sonhos extraviados e aos relógios que nunca param de rodar. Tudo para que fosse aberta no momento exato, o agora em que a vida não faz sentido e pesa.
      Abro a caixa. Dentro dela há um pedaço marcado de papel com minha caligrafia e um punhado de sentimentos. "Ao acabar de ler, o queime" assim ao fim dizia. Com os olhos marejados, minha alma sente e meu coração encerra.
     Nas labaredas do fogo o pedaço que era meu se torna cinza e se esvai levado pelo vento. Do pó e das palavras que um dia escrevi o universo e sua imensurável sabedoria me recomeça com uma primeira, grande lição, é preciso aprender a não ser tão só.




Sobre a autora:
Foto do perfil de Angélica Erd, A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, óculos de sol e close-up
 Angélica Erd é acadêmica do curso de Psicologia da Uri Campus Santiago e integrante do Grupo Mutações Poéticas.





Comentários