Pular para o conteúdo principal

Insuportável

Sentia o mundo em suas costas. 
O peso do mundo era grande.
- O mundo é grande, filha! 
Ouviu alguém dizer uma vez.
Agora, mais do que ver, ela sentia.
Ela sentia o mundo em suas costas, e desabou.
O peso do mundo é grande. Logo ela, que sempre fora tão forte, desabou.
Chegou em casa exausta. As pernas doíam, os braços doíam, a cabeça doía, seu peito doía, latejando uma angústia sem fim. E todo seu corpo era mais nada que uma extensão em matéria da própria dor. Personificada.
Era a dor. Brotava como hera em seu coração alquebrado (ferido pelas batalhas do tempo e pelas privações), percorria-lhe os braços até que chegasse aos nós dos dedos. e cada falange era um sonho perdido que se perdera, e cada falange era uma ilusão desfeita.
    Era uma flor, era uma rosa queimada pelo gelo. 
    Sentia o mundo em suas costas.
    O peso do mundo era grande.
    Chegou em casa exausta e desabou exaustivamente.
    A tesoura de cabo negro e metal espelhado, repousava ao seu lado, serena. Ela era o reflexo daquele mundo, e por um momento, pensou que ela era o próprio mundo inteiro, porque ela carregava o mundo em si, sem dúvidas. E mesmo assim ela era tão leve. Leve como uma pluma.
    Ela carregava o mundo assim como a tesoura, mas era peso demais. Era um peso que não suportava mais carregar. Insuportável.
    A tesoura de cabo negro e metal espelhado, repousava ao seu lado, serena. Ela era o reflexo daquele mundo. Serena, ela esperava por uma decisão.  

Esse texto não existiria se não fosse pelo prof. Thiago Ferreira Mucenecki e a sua notável sensibilidade para preparar aulas onde as "linhas duras" da psicologia se tornam um novelo de lã que rola aos nossos pés sob as patas de um encantador felino irrequieto.
 Ao professor Thiago entrego a dedicatória dessas palavras.

SOBRE O AUTOR:  acadêmico Anderson Pacheco, atualmente cursando o V semestre. 
Anderson é míope e enxerga mal mesmo usando óculos grossos, o que não o impede de ser sensível ao charme das coisas simples da vida. Gosta de fotografar o seu gato Tom ( e outros animais também) e pessoas em geral, de forma amadora. Bem amadora mesmo. Gosta de ouvir música deitado ou enquanto está no ônibus. Gosta muito de café e literatura universal, também gosta de literatura brasileira. E escolheu viver e se encantar pelas sutispequenasgrandes coisas do seu cotidiano.







Comentários